RELATO DE UMA MÃE SAUDOSA

tirando um pouco do atraso:
esboços de posts durante a viagem

Dizem por aí que brasileiro deixa tudo para última hora e eu engrosso a estatística. Meu marido é diferente e planejou uma viagem para nós dois com quase 1 ano de antecedência. Quando ele começou a falar sobre itinerários e programações, eu nem me manifestei muito. Afinal, faltava tanto tempo e eu confesso que lá no fundo estava descrente que, de fato, a gente viajaria. Lá no fundo, eu acreditava que algum imprevisto surgiria para frustrar a nossa lua-de-mel. De uma viagem repentina de trabalho ou outra intercorrência, eventualmente até um problema de saúde, como uma virose mais forte em algum dos filhos. Mas, no final das contas, deu tudo certo. E escrevo para vocês de dentro de um trem, com Cristiano ao lado concentrado em fazer nosso roteiro da tarde e com uma paisagem linda à minha direita.  Serão 3 horas de viagem e, claro, vou aproveitar para escrever para o Menu.

Esse post é para contar um pouco dos preparativos pré-viagem. Se deixei para arrumar a mala poucas horas antes de embarcar, eu passei bastante tempo pensando em como as crianças ficariam nesses dias longe de papai e mamãe. Depois, quando voltarmos, conto se tudo deu certo, mas a probabilidade que isso aconteça é grande, já que eles ficaram aos cuidados da vovó e da tia Kaki. Deixei sacolas de roupa separadas por categoria (de ir para escola, de sair, de ficar em casa, da natação) e a lista da rotina de cada dia, além da lista de telefones úteis com os contatos de amigas de todas as horas e também de 3 pediatras. Mas a maior parte do tempo foi mesmo empregada em conversar com o quarteto. Lá em casa repito tanto a frase “mamãe sempre fala a verdade” que já virou quase um bordão. Vão tomar vacina? Certamente eu vou advertir que vai sim doer um pouco. Eu e Cris vamos sair depois que eles dormirem? A gente fala também. Uma noite aconteceu até um diálogo engraçado. Cris estava colocando-os para dormir e avisou que, em seguida, a gente (eu e ele) sairia para jantar. Lucas choramingou e ainda assim Cris deu os detalhes: “filho, não se preocupe, sua tia vai ficar em casa cuidando de vocês. Vamos só dar uma volta, comer uma pizza, nos divertir e voltaremos em aproximadamente 1 hora”. Tudo bem em falar a verdade, mas Cris podia ter omitido a parte do prato predileto das crianças, né? Só faltava ele falar do recheio da pizza e da sobremesa de chocolate. hahaha

Tudo na vida tem dois lados, mas acredito que ser honesto com os filhos traz praticamente só vantagens. Um amigo querido contou da decepção profunda com os pais pelo fato de que, quando ele era criança, os pais fizeram uma longa viagem e partiram sem nada explicar, deixando-o com a babá. Provavelmente os pais fizeram isso para não vê-lo chorar, para evitar sofrimento antecipado. Enfim, ainda que a intenção tenha sido boa, o resultado foi uma mágoa que dura há anos (para não dizer décadas). Também acompanho relatos de filhos adotivos que ficam revoltados quando descobrem sua verdadeira história. O curioso é que muitos deles dirigem a sua mágoa não aos pais biológicos pelo abandono, mas sim aos pais que o acolheram (mas que também esconderam a verdade). É por tudo isso que o quarteto lá em casa está saturado de ouvir “mamãe fala sempre a verdade”.

Agora preciso falar do lado ruim....a pré-despedida. Davi, o caçula, estava mais apegado do que nunca e choroso também. Anita, superesperta e descolada, não queria sair do colo. Larinha e Lucas pareciam até animados em passar uns dias de quebra de regras (especialmente alimentares) na casa da vovó, mas perguntaram várias vezes quantos dias e por que estaríamos fora. Aí aproveitei a dica de uma professora e fizemos um cartaz com um calendário dos dias da viagem. Aí toda noite eles fazem um x em cada dia circulado. É bacana porque dá uma dimensão visual do tempo.

Ainda faltam 5 xises para serem assinalados no calendário que deixei com as crianças e estou aqui com o coração apertado, cheio de saudades e um pouco de apreensão também. Mas finalizo repetindo (e vivendo) os conselhos que vivo ouvindo por aí: “os pais precisam de um tempo só para eles”, “a vida não pode ser só cuidar dos filhos”, “mãe feliz educa melhor”. Filhos, AMO VOCÊS. Kaki e mamãe, MUUUUITO OBRIGADA POR TUDO. Arrivederci.