PhotobucketPhotobucketPhotobucketPhotobucket

8 de ago. de 2015

À mesa com meus filhos


Pediu-me Erika – esposa querida e mão de meus quatro – que escrevesse sobre paternidade em seu blog. Enrolei o que pude para fugir da tarefa. Minha enrolação não se deu, exatamente, por preguiça, mas por saber, lá no fundo, que havia algum não-querer. Embora eu mesmo seja pai dos pimpolhos Lara, Lucas, Ana e Davi, paternidade quádrupla, que faz de mim, em princípio, uma autoridade no tema, não me sentia seguro para tratar do assunto. Mas quem tem mulher, sabe bem como elas são insistentes.

Sabia-me incapaz de falar de meus filhos sem lembrar-me do filho que fui. E aí a saudade bate, e a dor é grande. Meu pai se foi há mais de dez anos, o que pode até parecer bastante tempo, ainda mais para alguém que, como eu, tem tanto a agradecer à vida. Mas a saudade, para meu despero, não é linear. Move-se em círculos e, depois que a vida nos precipita nela, não há escapatória. A danada da saudade renova-se em seu tempo redondo, girando no infinitivo da alma.

Quando menino, lembro-me da vitrola de minha mãe a girar um vinil do Nelson Gonçalves. Sua faixa predileta não era a lendária “A Volta do Boêmio”, mas “Naquela Mesa”, canção em que Nelson homenageou o próprio pai com os versos: “naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele tá doendo em mim”.

Não entendia porque minha mãe (também órfã de pai) gostava tanto daquela música e por que quando a agulha chegava à faixa, seus olhos, indefectivelmente, marejavam. Depois, já homem feito e também órfão de pai, vim a entender o motivo de sua renitente emoção, mas aí já não queria mais ter entendido nada. Só consegui sentir pena de mim mesmo: “se eu soubesse o quanto dói a vida, essa dor tão doída não doía assim”.

Mas o fato é que a Vida e Deus me abençoaram com a paternidade (quádrupla) e me convidaram a sentar à mesa de meus pequeninos, mesmo que, em minha mesa, estivesse vazia a cadeira de meu pai. Um, dois, três, quatro. Duas meninas e dois meninos.

Embora eu como pai tenha dado vida a eles (ou, ao menos, contribuí com 50% do DNA, para não soar machista), foram eles, na verdade, que me deram a vida, não metade, mas uma inteirinha, 100% nova – e, by the way, levaram minha antiga vida, definitivamente, embora. Depois deles, nada, nunca mais, seria igual.

Lembro-me de meu sufoco quando os gêmeos vieram (a número três gorducha e o número quatro magricela). À época, nossa mais velha não tinha nem quatro, Lucas era só um bebê de dois anos e ainda tínhamos dois recém-nascidos para cuidar. Erika e eu morávamos então na escaldante Cidade de Assunção e quando o finalzinho do fim-de-semana ia caindo e simplesmente não havia mais o que fazer para entreter as crianças, tínhamos de pôr os quatro no carro, ar condicionado no máximo, CD do Cocoricó a todo volume, e sair, desesperadamente, para fazer o único programa possível, com quatro crianças, em um final de Domingo no Paraguai, dar uma volta de carro e parar, na volta, para comprar frutas. Uau!

A paternidade me adaptou a novos programas e me fez esquecer dos velhos. Faz tempo que não escuto música, leio livro, acordo tarde ou saio tranquilamente para dar uma pedalada ao sol domingante de Brasília. Às vezes, não dá nem mesmo para pensar.

Mas, apesar de tudo, a paternidade nos fortalece e, quando eu falo de fortalecer, não quero referir-me a coisas como experiência, maturidade, crescimento pessoal, grandes insights filosóficos, mas, ao simples fato, de descobrir que um beijo na cabeça de um filho, um abraço esmaguento e um cheiro no cangote de uma criança estão entre as melhores coisas reservadas a um homem nesta vida. O cheiro de meus filhos, embora seja algo físico, passa, diretamente, da narina para a alma e me fortalece, pois restaura minha confiança na vida, a certeza de que Deus gosta de mim, sensações essas que só senti no colo de meu pai.
                                                                                                      Cristiano Berbert

2 comentários:

  1. Querido Cris, muito obrigada por ser um pai maravilhoso para os meus 4 periquitos!

    Um beijo grande,

    Karina

    ResponderExcluir
  2. Que linda mensagem Cris me emocionou muito e vejo você um super pai e tenho certeza que Roberto, seu pai, teria um orgulho enorme de você e sua linda família.

    Beijos

    Tia Risia

    ResponderExcluir