Ano escolar
começando e aquela expectativa gostosa de saber quem será o professor, quem
ficou na mesma sala e tudo mais. Para muitas crianças, no entanto, pode ser um
ano em que tudo realmente seja novo, inclusive outra escola.
Aninha feliz no Jardim de Infância 314 Sul
foto: prof Clenycy
|
Já comentei
em outra ocasião que, devido às nossas mudanças frequentes, já tive filho
estudando em quase uma dezena de escolas diferentes, somando creche, jardim de
infância e escolas no Brasil, Paraguai, Suiça e agora aqui nos Estados Unidos.
É um universo de diferenças e desafios. Hoje escrevo para compartilhar a boa experiência
que tivemos na escola pública de Brasília.
Em 2015, os
gêmeos, à época com 4 anos, frequentaram o jardim de infância da 314 Sul e os
maiores estudaram um semestre na Escola Classe 305 Sul.
Mini chefs no Caminhāo cozinha do Sesi |
A decisão de
mudar para a rede pública foi muito pensada e discutida, mas gerou uma surpresa
geral. Foi cada reação*... Afinal, as crianças estavam felizes na escola e as
mensalidades, ainda que levassem boa parte de nossa renda, já estavam incorporadas
no nosso orçamento... para quê mexer em time que está ganhando, correto? Meu
marido e eu resolvemos fazer essa experiência porque a gente já tinha ouvido
bons relatos da educação infantil e ensino fundamental-anos iniciais na rede
pública do Distrito Federal. Além disso, seria uma experiência com duração limitada,
já que a gente se mudaria em breve. E, é claro, a gente pensou na economia que
faríamos.
A próxima etapa
foi fazer pesquisa, ouvir recomendações e visitar as escolas que havíamos pré-selecionado.
Algumas pessoas perguntaram se foi difícil conseguir vaga. É verdade que não conseguimos
matricular os maiores na escola classe 314 Sul, nossa primeira opção, e que a
diretora da 305 Sul fez esforço para acomodar Lara e Lucas no mesmo turno
(muito obrigada diretora Karina), mas realmente não foi difícil matricular.
Alguns jardins de infância não tinham apenas uma, mas sim várias vagas disponíveis.
Um exemplo foi o jardim da 316 Sul. Quando
fomos visitar, havia até um cartaz na porta informando que a escola estava
aceitando matriculas. E isso em pleno andamento do ano escolar.
Matricular não
foi problema, difícil foi a despedida da escola. Ainda que a gente soubesse que
a despedida só seria antecipada em alguns meses, foi de partir o coração ver as
crianças se despedindo dos amigos e professores. Na tentativa de ver o lado
bom, a gente pensava que sair primeiro da escola e só após alguns meses sair do
país suavizaria um pouco o choque da mudança para o exterior. E acho que foi o
que ocorreu.
Mas voltemos
à escola publica...
Lara entrou
no 3º ano e Lucas no 1º ano. Ambos tiveram professoras experientes, Márcia e
Wânia, e que não apenas os acolheram bem, mas estavam muito disponíveis aos pais.
E dicas de professor valem ouro! No Plano Piloto, os alunos frequentam uma vez
por semana a Escola Parque, onde passam o turno escolar em aulas de música,
artes, Educaçāo Física e teatro. Foi uma maravilhosa experiência para eles. E
me deixou boquiaberta! A Escola Parque da 308 Sul tem um espaço excelente e
conta até com um teatro. Não é tudo novo, tinindo, mas o que ficou mais evidente
foi o comprometimento da maioria dos professores, crianças felizes, trabalhos artísticos
super bacanas e apresentação de dança e música que marejou os olhos dos pais. Enfim,
era na escola pública, mas poderia ter sido numa escola particular.
Feira de Ciências
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Sobre o
jardim da 314 Sul, um post é pouco para descrever esse lugar que ganhou meu coração.
Escola pequena, estrutura simples, mas tudo em constante melhoria. Ana ficou
com prof Clenycy e Davi com prof Simone. Essas duas profissionais tão bacanas e
comprometidas só refletiam o espírito de toda a equipe do jardim, que está sob
o comando da incrível e determinada diretora Elma. A localização da escola era estratégica para a
nossa família porque era onde minha mãe morava. Tem coisa mais gostosa do que
sair da escola e ir caminhando para almoçar na casa da avó? Era a realidade diária
dos gêmeos. Se sair era bom, ficar lá também era especial. A acolhida com música,
as refeições caprichadas preparadas pela tia Ju (tive que ir conhecê-la de
tanto que o comilão Davi elogiava), a convivência com os novos amigos e as
muitas apresentações. Só do que eu me lembro agora, foram 5 apresentações/festas
(dia das mães, dos pais, dos avós, festa da primavera, São Joāo), além de
passeios no zoo, teatro e outras ocasiões especiais, como a cozinha do Sesi,
teatro na escola, etc. E todas essas atividades em menos de 1 ano. As fantasias
podiam até ser simples, mas o capricho dos detalhes, os painéis lindos que as
professoras faziam, a seleção das músicas.....tudo isso bateu forte no meu coração
e derramei muitas lágrimas de emoção. O meu desejo era que todas as crianças do
mundo pudessem iniciar a vida escolar em um lugar tão especial como o jardim da
314 Sul.
Dia de apresentaçāo = emoçāo
Mas nem
tudo são flores. Toda essa experiência bacana foi uma ótima surpresa, mas alguns
pontos merecem destaque. Em dias de paralisaçōes, as crianças têm turno
reduzido ou simplesmente não têm aula. Os meus filhos podiam ficar na casa dos avós,
mas se eu não tivesse família em Brasília, como poderia trabalhar com
tranquilidade? As nossas 4 crianças
tiveram ótimos professores, mas e se não tivesse sido o caso? Na rede pública,
imagino que os diretores não tenham muita autonomia para mudar o quadro de
professores e funcionários. Além disso, pesquisamos apenas as boas escolas no
Plano Piloto. Infelizmente a realidade de outras escolas do Distrito Federal
deve ser outra. E o que dizer de modo geral da rede pública brasileira de
ensino? Não conheço todos os problemas, mas sei que eles são muitos, os
desafios imensos e que nada muda de um dia para outro.
Mesmo
ciente de que as disparidades nas escolas públicas sāo enormes, queria
compartilhar com vocês esse pedacinho de experiência que tivemos. Para mim, foi
lindo e inspirador ver, mesmo numa escala diminuta, a educação brasileira que dá
certo, em que crianças de diferentes classes sociais convivem, conectam-se,
aprendem juntos; artes e esporte levados a sério; a motivação e força de transformação
de uma diretora; professores que reivindicam melhores condições, mas dão o
melhor de si. E que um espaço pequeno e simples pode ser um ambiente gigante de
profissionalismo, dedicação e crianças felizes. Gratidāo!
* A reaçāo dos amigos e família quando contamos que as crianças sairiam de uma escola internacional para a rede pública foi primeiramente de susto. Recebemos alguns incentivos, mas também ouvimos: "Vocês não podem estar falando sério!"; "Filha, eu te empresto dinheiro se esse for o caso"; "Se eu fizesse isso, não teria mais coragem de comprar uma roupa ou ir a restaurante, educação é tudo", etc. A verdade é que eu e meu marido também tivemos receio e foi preciso ter coragem e vencer nossos próprios preconceitos. Um grande encorajamento veio justamente do diretor da escola francesa, onde eles estudavam. Numa conversa de despedida em que eu cheguei apreensiva e cheia de dúvidas, Marc apoiou nossa decisão, lembrou do suporte que os pais podem dar educação dos filhos (presença, apoio, leitura, museus, arte..) e destacou especialmente a importância do convívio com as diferenças na formação de crianças/cidadãos mais abertos e preparados para o mundo. Merci beaucoup, Marc!! Saí da sala com uma sensação de alívio incrível (e, claro, derramando muitas lágrimas). Educação é tudo sim, mas a escola é só uma parte dela. Quando voltarmos para o Brasil, provavelmente as crianças voltarão a estudar em estabelecimentos particulares. Mas caso não seja possível, espero voltar a relatar boas experiências. Afinal, como nossa família pôde comprovar, a escola pública pode sim ser uma excelente (e surpreendente) opção.
* A reaçāo dos amigos e família quando contamos que as crianças sairiam de uma escola internacional para a rede pública foi primeiramente de susto. Recebemos alguns incentivos, mas também ouvimos: "Vocês não podem estar falando sério!"; "Filha, eu te empresto dinheiro se esse for o caso"; "Se eu fizesse isso, não teria mais coragem de comprar uma roupa ou ir a restaurante, educação é tudo", etc. A verdade é que eu e meu marido também tivemos receio e foi preciso ter coragem e vencer nossos próprios preconceitos. Um grande encorajamento veio justamente do diretor da escola francesa, onde eles estudavam. Numa conversa de despedida em que eu cheguei apreensiva e cheia de dúvidas, Marc apoiou nossa decisão, lembrou do suporte que os pais podem dar educação dos filhos (presença, apoio, leitura, museus, arte..) e destacou especialmente a importância do convívio com as diferenças na formação de crianças/cidadãos mais abertos e preparados para o mundo. Merci beaucoup, Marc!! Saí da sala com uma sensação de alívio incrível (e, claro, derramando muitas lágrimas). Educação é tudo sim, mas a escola é só uma parte dela. Quando voltarmos para o Brasil, provavelmente as crianças voltarão a estudar em estabelecimentos particulares. Mas caso não seja possível, espero voltar a relatar boas experiências. Afinal, como nossa família pôde comprovar, a escola pública pode sim ser uma excelente (e surpreendente) opção.
Todas as vezes que fui buscá-los na hora da saída, nos dias de exposições e festinhas, sentia mesmo muito carinho e atenção dos professores e funcionários.
ResponderExcluirE as crianças tinham um orgulho imenso das atividades, murais, trabalhos... Uma fofura só!
Ai que saudaaaaaaade dos meus Chicos!!!!
Me sinto honrada e muito feliz com o qUE acabo de ler. Em nome da equipe do Jardim de a infância 314 Sul eu agradeço todo o carinho e parceria de vcs! Um grande bjo!
ResponderExcluirElma