Quando escrevi a primeira vez sobre quarentena, no meio de março, a epidemia chegava à Europa, mas a situação no Brasil ainda era de aparente tranquilidade. Em pouco espaço de tempo, tudo se modificou. Estamos agora todos no mesmo barco (ou como li em um texto bem interessante, todos na mesma tempestade. Afinal, as condições do isolamento em casa são muito distintas e algumas, infelizmente, muito precárias) e quem é que sabe quando tudo vai de fato melhorar?
A quarentena aqui em Varsóvia, na Polônia, começou dia 12 de março. Já foi prorrogada algumas vezes e não parece que está longe do fim. Na quinta começou a obrigatoriedade de uso de máscaras em espaço público. Algumas medidas foram ainda mais endurecidas. Mas a boa notícia é que parques (não os parquinhos) e florestas serão reabertos a partir da próxima semana. Vai ser bom caminhar entre as árvores, deixar as crianças e nosso cachorro voltarem a sentir um pouco de liberdade, correndo, brincando. Nas últimas semanas, a vida tem sido em casa ou em volta dela, em curtas caminhadas.
Bolo número 15? Já perdi as contas. Esse, de banana, já tinha sido "atacado" antes da foto. |
Como anda a sua rotina? Aqui, com trabalho doméstico intensificado, eu me sinto bem cansada. Eu estava agora falando com meu irmão e brincando: sabe aqueles resorts com tudo incluído? Você toma café da manhã, depois vem almoço, depois aquele lanchinho gostoso, daí outra refeição...é tipo aqui em casa. O problema é que sou e meu marido (quando ele não está no trabalho) que temos que fazer tudo. Parece que estamos 24h no ar. Quando começou a quarentena, os meus planos incluíam pôr os álbuns das crianças em dia, organizar todas as gavetas, deixar a casa um brinco. Falharam!
O ensino à distância exigiu muito a minha participação no começo. Conexão que caía, ferramenta que as crianças não sabiam usar, dúvida aqui, dúvidas acolá. Mas não são as crianças que ocupam o meu dia inteiro, as tarefas da casa também e minha pouca habilidade no quesito arrumação. Acaba o dia eu estava exausta e com a sensação que deixei tanta coisa acumulada para o dia seguinte.
Resolvi mudar de atitude! A casa está organizada agora e todas as tarefas em dias? Longe disso, infelizmente. Mas resolvi incluir nessa quarentena atividades que são exclusivamente para mim. Eu nem sequer gostava de correr, mas de vez em quando coloco o tênis e saio por uns minutos por aí com toda a minha energia. Sempre achei que eu não combinava com yoga, mas aderi a umas aulas online com um grupo que eu faço parte aqui de mulheres estrangeiras e tem me feito muito bem. Voltei a estudar polonês e criei um novo blog, o livinginbrasilia.blogspot.com. Esse blog tem como público-alvo pessoas como eu, estrangeiros que não falam o idioma local.
Uma amiga brincou: "como você dá conta de fazer tanta coisa? O seu dia tem mais de 24h". A resposta é : eu não dou conta. Eu não dou conta de dar toda a atenção que as crianças precisam para fazer bem as tarefas escolares, eu não dou conta de fazer almoço e jantar saudáveis todos os dias (de vez em quando eu me rendo a pizzas ou fast food), eu não dou conta de deixar a casa brilhando, eu não dou conta acabar com a pilha de roupa. O problema era que mesmo quando eu investia todo o meu dia nessas atividades de casa, eu ainda não dava conta de concluir. E ficava cansada, frustrada. Agora, com essas atividades "para mim", os meus dias de quarentena ganharam outro significado. Não importa o tanto de coisa acumulada, vai ter momento de leitura, vai ter momento para uma atividade física (se é que uma caminhada/corrida de 15 min contam) e vai ter momento para fazer uma atividade que eu gosto muito, que é escrever.
O texto ficou mais longo que eu planejava. Deixo um abraço e votos de coragem para todos nós. Que a quarentena, mesmo com todos os medos, frustações, preocupações, planos adiados, etc. também traga algo de positivo para cada pessoa. Muito obrigada pela companhia e por acompanhar o blog.
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