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27 de ago. de 2020

"Pelo menos você trabalha". Mais um relato da quarentena

Estava pensado em quando o primeiro lockdown foi estabelecido aqui na Polônia por causa da pandemia de coronavírus. Foi no meio da semana e era previsto para durar 15 dias. Uau, parecia um tempão! 5 meses depois, ainda estamos vendo casos se multiplicarem, mortes pelo mundo afora ( e o Brasil ocupando a triste posição de 2º lugar em países com mais número de casos e mortes). Parece que ainda estamos longe de respirarmos aliviados.

Enquanto isso, como se adaptar, como seguir adiante sem tanto desgaste emocional? Eu sigo tentando encontrar meu caminho e bolando novas estratégias para esses novos tempos. Morando aqui na Polônia há 1 ano, o horror da II Guerra Mundial ficou bem mais evidente. O que estudei nos livros de História, vi ao vivo aqui: campo de concentração, memoriais, museus. Tudo isso toca profundamente. Então, como reclamar desse momento em que o que se pede é apenas distanciamento social, uso de máscara e cuidados de lavar as mãos com frequência?  Aqui em Varsóvia, muita coisa já aberta: parques, museus, restaurantes.

Não perdi emprego, não falta comida na geladeira, crianças com saúde. Reclamar de quê? Pela lógica da razão, parece realmente não haver motivos para lamúrias. Mas o cansaço acumulados de tantas semanas de vez em quando bate em mim com tudo. Fico também com um misto de frustação por estar em casa e não encontrar tempo para ler mais, estudar, escrever. Parece que tendo “todo o tempo do mundo”, eu não consigo de fato encontrar tempo para nada. Nada para mim, quero dizer. Comprei um curso e simplesmente não consegui finalizar. Como não tem horário fixo para fazer, sempre aparece algo mais urgente. Afinal, trabalho de casa não parece ter fim! Percebi que as aulas com horário marcado são as que eu mais consegui fazer. E como é bom parar por 1 hora e não pensar em comida, roupa, atividade educativa.

Sempre me lembro de uma frase que uma amiga me disse quando eu ainda morava em Brasília e trabalhava meio período. Um dia, depois do meu plantão no hospital, a gente se encontrou no parquinho e, como sempre, falamos das crianças, das travessuras e da programação infantil para o fim de semana. Quando chegou na parte do desabafo, de falar do cansaço (físico e emocional), aí ela me disse assim “Erika, pelo menos você trabalha”. Ãhh? Geralmente as pessoas admiram mães que conciliam família e trabalho, certo? Estando agora do outro lado, em casa com as crianças, posso afirmar que não, não é moleza. Talvez seja falta de organização do tempo, planejamento, não sei. Mas a frase da minha colega nunca fez tanto sentido para mim.

Quarentena dia 167.

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